Jacobovski
R
/ Enfermería Investiga
Vol. 8 No. 2 2023 (Abril
–
Junio)
3
POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO NA SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO BRASIL
PUBLIC POLICIES ON HEALTH EDUCATION: AN EXPERIENCE OF THE SINGLE HEALTH SYSTEM IN BRAZIL
Renata Jacobovski
1
https://orcid.org/0000
-
0001
-
6028
-
5528
,
Luis Felipe Ferro
2
https://orcid.org/0000
-
0001
-
8935
-
104X
,
Rafaela
Gessner Lourenço
3
https://orcid.org/0000
-
0002
-
3855
-
0003
,
Rafael Gomes Ditterich
4
https://orcid.org/0000
-
0001
-
8940
-
1836
,
Luciana
Elisabete Savaris
5
https://orcid.org/0000
-
0002
-
7408
-
1187
1
Enf
ermeira M
estra em
Políticas Públicas. Programa de Pós
-
graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba/Brasil.
2
D
ocente do departamento de Terapia Ocupacional e do Programa de Pós
-
graduação em Políticas Públicas da
Universidade Federal do Paraná,
Curitiba/Brasil.
3
Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná
, Curitiba/ Brasil
.
4
Docente do Departamento de Odontologia
e do Programa de Pós
-
graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná,
Curitiba/Brasil.
5
Doutoranda em Psicologia. Programa de Pós
-
graduação em Psicologia da Universidade Federal do Paraná,
Curitiba/Brasil.
2477
-
9172 / 2550
-
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3
Universidad Técnica
de Ambato, Carrera de Enfermería. Este es un artículo de acceso abierto distribuido bajo los términos de la
Licencia Creative Commons, que permite uso ilimitado, distribución y reproducción en cualquier medio, siempre que la obra ori
ginal es debidamente c
itada.
Autor de correspondência
:
Me.
Renata Jacobovski.
Correio eletrônico
:
renatajacobovski@gmail.com
Recebido: 08 de fevereiro de 2023
Aceito: 18 de março de 2023
RESUMO
Introdução:
a
partir da edificação do Sistema Único de Saúde
(SUS) no Brasil, pautado
em uma concepç
ão de saúde
ampliada
, emergiu a necessidade da forma
ção de profissionais
críticos
na área, de maneira a
intervirem em diferentes
condicionantes do processo
saúde
-
doença de indivíduos e
coletividade
s
. Dessa forma,
no d
ecorrer histórico
de várias
iniciativas voltadas ao fortalecimento de recursos human
os para
o SUS, a criação
do Programa de Educação pelo Trabalho em
Saúde (PET
-
Saúde) se configura como um elo
importante
entre
u
niversidades
, o
SUS
e a população.
Objetivo:
a
presente
pesquisa
tem por
objetivo
descrever e discutir a estrutura
organizacional, a dinâmica de funcionamento e as ações
desenvolvidas pela edição do PET
-
Saúde Interprofissionalidade,
executado entre 2019 e 2021
,
na Universidade Federal do
Paraná (UFPR).
Método
:
t
rata
-
se de um estudo qualitativo,
exploratório e descritivo, mediante a realização de 18 entrevistas
semiestruturadas coletadas com participantes do projeto.
Resultados:
foram constituídas quatro categorias de sentido
que versam sobre a trajetória do programa na UFPR, as
estrutura
s e parcerias firmadas no PET
-
Saúde
Interprofissionalidade, a dinâmica operacional do projeto e o
desenvolvimento de ações em meio à pandemia. A
demais
,
e
videnciou
-
se a potência do programa como estratégia p
ara a
formação de profissionais
humanos, reflexivos, competentes ao
trabalho interprofissional e colaborativo, além do fortalec
imento
da tríade
ensino
-
serviço
-
comunidade para atender as
necessidades do SUS e
orientar a construção de políticas
púbicas
d
e desenvolvimento em recursos humanos para a
saúde.
Conclusão
:
o
s resultados apontam para a necessidade
de aprofu
ndar temas
que fomentem modos inovadore
s de
ensino
-
aprendizado na área, visando
à
superação do modelo
hegemônico de se fazer, ensinar e aprender saúde
e
maior
integração entre práticas e profissões no contexto do SUS.
Palavras
-
chave:
p
olítica
p
ública de Saúde
;
educação em
s
aúde
;
i
nterprofi
ssionalidade
; sistema único de saúde;
metodologias a
tivas.
ABSTRACT
Introduction:
from the construction of the Unified Health
System (SUS) in Brazil, based on an expanded and universal
health concept, the need emerged for the training of critical and
humanized professionals in the area, in order to promote the
interventions in differen
t conditioning factors of the health care
process. health
-
disease of individuals and collectivities. Thus, in
the course of the historical trajectory of various initiatives aimed
at strengthening human resources within the scope of the SUS,
the creation of
the Education Program for Work in Health (PET
-
Health) is configured as an integration link between Universities
and public services of health, aligning theory with reality, while
introducing students to the world of work in different SUS
scenarios.
Objective
: the present research has the objective of
describing and discussing the organizational structure, the
dynamics of operation and the actions developed by the edition
of PET
-
Saúde Interprofessionalidade, carried out between 2019
and 2021 at the Federal
University of Paraná (UFPR).
Method:
this is a qualitative, exploratory and descriptive study, through
18 semi
-
structured interviews collected with project participants.
Results:
the potential of the program as a strategy for training
critical, humane, reflective professionals, competent in
interprofessional and collaborative work was evident, in addition
to strengthening the related three points between teaching,
service and comm
unity to meet the needs of SUS in the context
4
of the Brazilian population.
Conclusion:
the results point to the
need to deepen the theme of policies that encourage innovative
ways of teaching and learning in the area of health, linked to the
improvement of education, health realities and services provided
in the context of the SUS.
Keywords:
p
u
blic health policies; education in eealth;
interprofessionality; single health system; active m
ethodologies
Autor de correspondência
: Me. Renata Jacobovski.
Correio eletrônico
:
renatajacobovski@gmail.com
INTRODU
ÇÃO
A Reforma Sanitária Brasileira e a oitava Conferência Nacional
de Saúde,
sob
influência
s
de movimentos internacionais, como
a Declaração de Alma
-
Ata e a Carta de Ottawa,
originou
uma
crescente valorização
sobre
a
concepção do direito universal à
saúde e da influência de determinantes sociais sobre o processo
saúde
-
doença, expressos por habitação, educação,
alimentação, renda, emprego, transporte, lazer, liberdade, paz,
acesso à terra, ecossistema estável, recursos
sustentáveis,
justiça social, equidade, entre outros
(
1
-
3
).
Convergindo com esse enfoque ampliado sobre a saúde e a
doença, voltada a grupos sociais e não somente a indivíduos, o
Sistema Único de Saúde
(SUS)
brasileiro é, então, idealizado e
concebido. Diante disso, ocasionou
-
se a necessidade da
formação de profissionais de saúde que fossem críticos,
humanos, reflexivos e condizentes com as novas demandas
ampliadas e multifatoriais do ideal sanitário recém
-
est
abelecido,
pautado na universalidade, integralidade, equidade e
participação social, em direção a uma
praxis
menos fragmentada
das práticas de se fazer, ensinar e aprender saúde.
Dessa
forma
, coube ao recente sistema público, em meio às diversas
competênci
as, a missão de ordenar e organizar o
desenvolvimento de recur
sos humanos para a saúde (
1
,2,
4,5
)
.
Nesse
contexto
, irrompe
-
se
a problemática de que o modelo
tradicional de ensino, baseado na simples transmissão e
reprodução de conhecimentos, deficiente, muitas vezes, de um
viés crítico e da intervenção direta sobre a realidade, diverge,
em grande parte, das reais exigências forma
tivas dos
profissionais de saúde, envoltos com a produção do cuidado
humano. Ao tratar de tal assunto, destaca
-
se como essencial
para o trabalhador desse campo
adquirir a competência de
lidar
com
diferentes
processos
individuais,
familiares
e
comunitários,
atuando
diretamente nos determinantes sociais e na qualidade
de vida das populações
(
6
-
8
)
.
Assim
, a discussão sobre novas
práticas pedagógicas ganhou espaço, indo ao encontro da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e das
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos na área
da saúde
no Brasil
, as quais versam sobre
a
valorização da
aprendizagem no ambiente laboral;
a
maior abertura dos
serviços às instituições formadoras;
a
flexibilização das
estruturas curriculares;
a
formação por competências;
a
promoção da interação ensino
-
serviço
-
comunidade;
o
estímulo
ao trabalho interprofissional, multidisciplinar e colaborativo;
a
proposição de metodologias de ensino inovadoras e criativas;
a
aprendizagem significativa
,
ati
va e reflexiva e
a
orientação dos
processos educativos para as necessidades sociais em saúde,
bem como a defesa do SUS
(9
,
10
).
Considerando
tais elementos, torna
-
se primordial citar
suas
relações intrínsecas com
as Metodologias Ativas (MAs) de
ensino
-
aprendizagem, que podem
ser
compreendidas
como
estratégias
didáticas alternativas
ao
modelo
tradicional de
educação e uma escolha político
-
pedagógica em que os
diferentes atores sociais envolvidos no processo de aprender
podem assumir o compromisso de construir coletivamente o
conhecimento e trans
formar suas realidades (
11
-
14
)
.
Vale
destacar que
,
no decorrer da trajetória histórica de várias
iniciativas voltadas ao fortalecimento dos recursos humanos no
âmbito do SUS, a criação da Secretaria da Gestão do Trabalho
e da Educação na Saúde (SGTES) e do Departamento de
Gestão da Educação na Saúde (DEGE
S)
,
em 2003
,
constitui um
marco importante para a esfera da formulação de política
públi
cas relacionadas à
formação
,
qualificação
e gestão
de
profissionais de
saúde no Brasil
. Como exemplo, o Programa de
Educação pelo Trabalho
para
Saúde (PET
-
Saúde)
, instituído
pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da
Educação, em 3 de março de 2010,
visa
fortalecer a integração
ensino
-
serviço
-
comunidade
, alinhando a teoria à
realidade, ao
passo que inicia
discentes
ao mundo do labor
em diferentes
cenários de práticas do SUS
(
15
-
17
)
.
O PET
-
Saúde apresenta como pilares para a sua execução
o
desenvolvimento de ações em áreas prioritárias para o SUS, a
tutoria
de profissionais
de saúde d
a
rede de cuidado
do SUS
, a
criação de grupos discentes
de aprendizagem tutorial e
a
gerência de docentes
da
u
niversidade
. Desde sua criação
,
programa
já
selecionou 120
projetos para o desenvolvimento da
temática da “Educação Interprofissional e das Práticas
Colaborativas”
(PET
-
Saúde Interprofissionalidade)
,
havendo,
entre eles,
um
projeto
executado pela
Universidade Federal do
Paraná (
UFPR
) em conjunto com as Secretarias
Municipais
de
Saúde
(SMS)
dos municípios de
Curitiba e Piraquara
no Estado
do Paraná,
entre
2019
e 2021
,
objeto
do presente estudo
(16
,
18
).
Nesse cenário
,
esta
pesquisa
tem por objetivos
descrever e discutir a estrutura organizacional, a dinâmica de
funcionamento
e as ações desenvolvidas pelo
PET
-
Saúde
Interprofissionalidade
da UFPR/ SMS Curitiba/ SMS Piraquara
,
relevantes
para
avaliar
o processo ensino
-
serviço
-
comunidade
entre os envolvidos, bem como subsidiar a adoção de
boas
práticas às
necessidade
s atuais do SUS e
à construção de uma
política de desenvolvimento em recursos humanos
unificada
para o sistema, agenda ainda não finalizada no país.
M
ÉTODOS
Trata
-
se de uma pesquisa
qualitativa, exploratória e descritiva,
realizada com base em 18 entrevistas semiestruturadas
,
gravadas
entre fevereiro e março de 2021,
com
a participação de
integrantes da edição PET
-
Saúde Interprofissionalidade
(
2019
-
2021
)
, sendo
cinco profissionais do SUS, seis estudantes
da
UFPR e
sete docentes da UFPR. As entrevistas foram gravadas
de forma remota
com a utilização da plataforma digital
Google
Meet
, a fim
de se preservar o isolamento social decorrente da
pandemia do Coronavírus 19 (COVID
-
1
9),
foram numeradas
aleatoriamente
de E1 a E18
e
encerradas quando não foram
obtidas novas informações, compreendendo o ponto de
saturação teórica do estudo.
As coletas
ocorreram somente após
a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre
e
Esclarecido (TCLE) e todos os aspectos éticos previ
stos na
5
Resolução n
º
466/12 do Conselho Nacional de Saúde foram
preservado
s (19
). O trabalho é fruto da pesquisa “Metodologias
Ativas: estruturas e concepções para a prática educacional”,
aprovada pelo comitê de Ética do setor de Ciências da Saúde da
UFPR, sob o número 3.229.786 e oriundo
de uma dissertação de
mestrado em Políticas Públicas da mesma
u
niversidade.
Os dados coletados foram transcritos integralmente e analisados
segundo o referencial teórico de aná
lise de conteúdo de Bardin
(20
)
:
1)
Pré
-
análise: organização inicial do material por meio da
leitura flutuante e constituição do corpo teórico das estrevistas;
2) Exploração do material
: decomposição dos dados em
unidades de registros por meio de signifi
cação temática,
constituindo os eixos temáticos
; 3) Tratamento dos resultados
:
tratamento d
os resultados obtidos para que sejam significativos,
a partir de
inferência
s,
inter
pretações, síntese
e delimitação d
as
categorias de sentido
. A seguir
foram elaborados um Fluxograma
(Figura 1) e um Quadro (Quadro 1)
demonstrativos
para
explicar,
respectivamente,
as etapas da pesquisa
e a se
leção da
significação temática.
FIGURA
1
ETAPAS DA PESQUISA
QUADRO
1
EIXOS TEMÁTICOS E CATEGORIAS DE SENTIDO
Eixos temáticos
Categorias de sentido
Objetivos do projeto.
O PET
-
Saúde e a trajetória na UFPR.
História do PET
-
Saúde.
Estruturação dos grupos.
PET
-
Saúde
Interprofissionalidade: estruturas e parcerias.
Interlocução com a rede de saúde.
Dinâmica do grupo.
A dinâmica operacional: a construção de um modelo geral.
Operacionalização das ações.
Ações realizadas.
O desenvolvimento das ações e a
dualidade de realidades.
O advento da pandemia.
A partir da
sistematização dos dados coletados foram
constituídas quatro categorias de sentido que serão
desenvolvidas ao longo do trabalho: 1) O PET
-
Saúde e a
trajetória na UFPR; 2) PET
-
Saúde Interprofissionalidade:
estruturas e parcerias; 3) A dinâmica operacional: a construção
de um modelo geral; 4) O desenvolvimento das ações e a
dualidade de realidades.
RESUL
TADOS E DISCUSSÃO
O PET
-
Saúde e a trajetória na UFPR
O PET
-
Saúde, instituído em 2008, foi elaborado para promover
a aproximação da
u
niversidade às necessidades do SUS
e sua
população,
apoiando o enfrentamento coletivo de problemáticas
comunitárias
.
O programa busca protagonizar diversos
cenários
de práticas
,
a partir da tríade condutora ensino
-
serviço
-
comunidade. Dentre seus objetivos estão: a consolidação do
6
SUS, seus princípios e diretrizes; a integração en
tre ensino,
pesquisa e extensão; o estímulo à
s
mudanças curriculares n
os
cursos de graduação em saú
de, alinhadas às DCNs
; a iniciação
de discentes
no
mundo do trabalho, em diferentes locais da
atenção básica do sistema público de saúde
e o
desenvolvimento
de profissionais para o SUS, bem como a
qualificação de seus tra
balhadores (
15,16
,
18
)
.
Para a concretização dessas propostas, o programa
, lançado a
partir de editais propostos pelo
Ministério da Saúde (MS), é
desenvolvido por instituições de ensino superior em conjunto
com secretarias municipais de saúde por meio da formação de
coletivos tutoriais de aprendizagem. Tais grupos englobam um
público
-
alvo composto por docentes universitá
rios, profissionais
atrelados ao SUS e discentes de graduaç
ão
da
s
área
s
da
saúde.
Há também a oferta de bolsas de extensão para alunos, de
tutoria acadêmica para professores e de
tuto
ria
para os
trabalhadores da saúde
visando o desenvolvimento
, além das
at
ividades de rotina da rede pública,
de
temas considerados
prioritários para
o fortalecimento
das práticas do SUS. Entre
2008 e 2015, foram lançados oito editais envolvendo 900
projetos em diversas regiões do país, com a execução
nas
seguintes áreas estratégicas: saúde da família; vigilância em
saúde; saúde mental; redes de atenção
;
e gr
aduaçõ
es em
saúde
(16
,
18
)
.
A última aprovação do PET
-
Saúde no âmbito da UFP
R
ocorr
eu
em 2018, inaugurando a temática da educação interprofis
s
ional
(EIP)
e das práticas colaborativas
,
fruto de
uma demanda
de
edições
anterior
es do projeto
que sinalizavam a dificuldade em
se promove
r o trabalho interdis
c
iplinar e colabotrativo no âmbito
d
o SUS e também pel
o fomento
do Plano de Implementação da
EIP no contexto da sa
úde, liderado pela Pan American Health
Organization
,
estratégia primordial para o desenvolvimento e
fortalecimento de r
ecursos humanos nessa área
(18
,
21,22
).
E1. “[...]
o tema da
interprofissionalidade
vem de uma trajetória
de discussões prévias que fomentaram a necessidade de um
olhar para o trabalho em equipe, para o diálogo entre diferentes
categorias, com práticas mais voltadas para o trabalho
colaborativo e interprofissional
[...]”.
Em suma, o
ideal
d
a promoção
de
tal temática pode corroborar
com
a
diminuição
da fragmentação do trabalho em
saúde,
com
a
redução da hierarquia e relações de poder existentes
entre as
profissões.
A
lém disso,
contribui para a
consolidação da
cobertura universal em saúde, maior
resolutividade,
qualidade
e
integralidade
dos serviços
sanitários
, considerando o indivíduo e
a coletividade em seus aspectos holísticos
e participativos
do
processo saúde
-
doença
.
PET
-
Saúde
Interprofissionalidade: estruturas e parcerias
Logo que ocorreu a publicação do edital em 2018, por parte do
Ministério da Saúde (MS)
, para o desenvolvimento do PET
-
Saúde Interprofissionalidade, docentes de várias áreas do
conhecimento em saúde da UFPR se mobilizaram para a
construção de um projeto
de forma conjunta
com gestores
da
saúde dos municípios de Curitiba e Piraquara.
Foram elaborados
cinco
grupos
de apre
ndizagem tutorial para concretizar
as
a
tividades do programa, fomentar a formação interprofissional e
o trabalho colaborativo, além de promove
r áreas estratégicas
para o
SUS:
1) Promoção da Saúde; 2) Educação popular,
mobilização e controle social na saúde; 3) Práticas Integrativas
em Saúde e abordagens grupais; 4) Redes de Atenção à Saúde
e 5) Vigilância em Saúde.
Importante ressaltar que apenas
integrantes
de três dos cinco grupos tutoriais do projeto
aceitaram participar da pesquisa, dentre eles: “Redes de
Atenção à Saúde”, “Vigilância em Saúde” e “Educação Popular,
Mobilização e Controle Social na Saúde”.
Cada grupo foi constituído pela mescla de diferentes cursos de
graduação em saúde da UFPR e
diversas
profissões exercidas
pelos docentes e
tutor
es
, dentre eles: medicina, odontologia,
educação física, enfermagem, terapia ocupacional, farmácia,
biomedicina, psicologia e fisioterapia.
C
ada grupo tutorial
também delimitou suas ações e
atividades
específicas,
elegendo
equipamentos
de saúde e sociais para executá
-
las
:
Unidades
Básicas de Saúde (UBSs), Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Laboratório
Municipal de Sa
úde
, Vigilância Sanitária, Vigilância
Epidemiológica, Saúde do Trabalhador, Con
selhos Municipais
de S
aúde
, Centros Comunitários, Centros de
Assistência Social
e Escolas.
Acerca da composição estrutural de cada grupo, a constituição
se dava em média com 12
integrantes
: um professor
coordenador de grupo e um professor tutor, ambos docentes
ligados à UFPR;
no mínimo
q
uatro profissionais
tutor
es
vinculados ao SUS
e
pelo menos seis
alunos matriculados na
UFPR em
cursos da area de saúde.
É i
mportante destacar que
a totalidade dos docentes coordenadores
recebia bolsa
acadêmica,
enquanto
os professores tutores
,
tuto
res
e
alunos
poderiam
ser
bolsistas ou voluntários. O
s participantes bolsistas
poss
uíam dedicação de
oito horas semanais ao projeto,
sendo
quatro horas
de
ações pre
senciais nos serviços e quatro horas
de atividades
remota
s
,
e
nquanto
que
os voluntarios realizavam
apenas quatro horas presenciais. O
s
docentes
coordenadores
e tutores
desenvolviam
a
s
funç
ões
de gestão do grupo
,
negociação com os campos de atuação, supervisão e suporte
para o planejamento e execução das atividades
e, por isso,
não
estavam presentes
fisicamente nos
equipamentos
, apenas os
tutor
es
e dis
centes executavam ações
in loco
.
Para facilitar a compreensão acerca da estruturação geral do
PET
-
Saúde Interprofissionalidade,
elaborou
-
se um quadro
explicativo (Quadro 2), que mostra a parceria firmada, a
identificação dos grupos, bem como a sua composição, e os
equipamentos sociais e de saúde
utilizados nas ações
.
QUADRO
2
CARACTERÍSTICA GERAL DA EDIÇÃO PET
-
SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE
PET
-
Saúde
Interprofissionalidade
Parceria
Grupo
Equipamento Social
e de Saúde
Identificação
Composição
Curso/Profissão
7
UFPR
SMS Curitiba
SMS Piraquara
1)
Promoção da saúde
.
2)
Educação popular,
mobilização e controle
social na saúde
.
3)
Práticas
i
ntegrativas na
saúde e abordagens
grupais
.
4)
Redes de atenção à
saúde
.
5)
Vigilância em
saúde
.
1
C
oordenador
(professor)
1 tutor (professor)
4
P
receptores
(profissionais do
SUS)
6
E
studantes
Medicina
Odontologia
Educação Física
Enfermagem
Terapia O
cupacional
Farmácia
Biomedicina
Psicologia
Fisioterapia
UBS
CAPS
UPA
LMS
VS
VE
ST
CMS
CC
CAS
E
Legenda
: UBS
-
Unidades Básicas de Saúde;
CAPS
-
Centro de Atenção Psicossocial;
UPA
-
Unidade de Pronto
Atendimento;
LMS
-
Laboratório Municipal de Saúde; VS
-
Vigilância Sanitária;
VE
-
Vigilância Epidemiológica; ST
–
Saúde do
Trabalhador;
CMS
-
Conselhos Municipais de Saúde; CC
-
Centros Comunitários;
CAS
-
Centros de
Assistência Social;
E
-
Escolas.
Apesar da aproximação benéfica
entre
a Universidade
e
Secretarias Municipais de Saúde
, promovida pelo projeto,
observa
-
se
a necessidade
da construção de projetos
por
diálogos democráticos
com trabalhadores da
saúde,
estudantes
e
a coletividade comunitária
,
no sentido de contemplar as re
ais
necessidades dos serviços e
a
população
,
superando
a
conduta
vertical e exclusiva da academia e de gestores
políticos.
Tal
concepção
, agrega
valor e
fortale
ce
a integração entre ensino
-
serviço
-
comunidade e a execução
de políticas
de educação na
saúde de maneira mais eficaz
,
na medida que se vale do
planejamento estratégico situacional (PES).
O PES se pauta na
perspectiva do
diagnóstico situacional de uma realidade
local
,
sem deixar de reconhecer a importância dos diversos atores
envolvidos em todos os momentos do processo de tomada de
decisões
de uma determinada questão
. Portanto,
se
faz ideal
para a realização de programas de forma
coletiva,
participativa
e
integral
(
23
,
24
)
.
E2. “[...]
eu acho que a elaboração do projeto de um jeito mais
potente é
dialogar
ta
mbém com trabalhadores
e usuários
,
compondo
os grupos e objetivos
juntamente com os alunos e
preceptores
, a partir d
as necessidades dos serviços e da
coletividade [...]
.
Eu gosto muito de
algumas práticas
que se
organizam e fortalecem
por meio do planej
amento estratégico
situacional
[...]”.
Outro desafio relacionado à configuração estrutural dessa
edição
reside na necessidade de atrelar o projeto à equipe de
saúde
como um todo
e não
somente à figura de um
tutor
do
ambiente laboral
. Esse modo de vinculação possui a
potencialidade de
proporcionar aos alunos vivências mais
comple
tas dos processos de trabalho
,
conhecimento de maior
número de
cenários
de práticas
do SUS
e maior acolhimento por
parte dos trabalhadores locais
. Para os profissionais da saúde,
pode contribuir para a resolução de proble
máticas do serviço
,
maior engajamento no programa e
sentimento
de
valorização
pelo
trabalho
que exercem
. Desse modo,
o estabelecimento de
bolsas de
tut
oria
de maneira rotativa entre
tod
os
os membros da
equipe e
outros modos de gratificações criativas
precisam ser
pensadas
(
25
-
27
)
.
E5. “[...]
o formato do PET é muito inteligente porque ele
incentiva, respeita e remunera o
preceptor
, ao passo que a
Secretaria de Saúde também reconhece o papel de auxílio do
aluno e da Universidade para o serviço. Então quando a gente
tem um preceptor acolhido e reconhecid
o
as portas se abrem e
o trabalho
do PET
fica muito facilitado
[...]”.
A
tut
oria
figura
como uma iniciativa
pedagógica na área da
saúde em que um trabalhador do serviço irá monitorar, mediar,
acompanhar e servir de exemplo profissional e ético para o
educando, mostrando competências e habilidades da profissão
na prática laboral. Quando bem manejada, a estratégi
a
é capaz
de promover as
práticas int
erprofissionais,
colaborativas
e a
formação de uma gama de
profissionais aptos à atuação no
sistema
pú
blico de saúde
(
26,28
).
A dinâmica operacional: a construção de um modelo geral
No
intuito
de realizar um esforço analítico para congregar
a
dinâmica de funcionamento e operacionalização das ações dos
grupos participantes da pesquisa, é possível referir que, de
modo geral, cada tutorial possuía reuniões periódicas para
planejar objetivos específicos e
metas para embasar ações
concretas, sempre a partir dos objetivos gerais do projeto e da
temá
tica
de cada grupo. A construção dessas ações,
diferentemente do planej
amento geral inicial do projeto, ocorria
de maneira
compartilhada entre docentes,
tutores
e
estudante
s
,
a partir das demandas
dos serviços frequentados
e
de
suas
populações
. Ocorria
uma
divisão em subgrupos de modo que
cada ação específica possuía
como referência
para
o seu
desenvolvimento determinados
discentes
,
professor
es
e
tutor
es
.
Concomitantemente, os trabalhos elaborados em cada subgrupo
eram compartilhados com todos os integrantes
do
tutorial maior
para
crescimento coletivo
e posterior execução
.
Em relaç
ão
ao trabalho de
campo, os
estudantes
executavam
v
isitas
em equipe interprofissional
,
uma vez por semana
,
para
desenvolver as ações planejadas,
estabelecendo
interação com
tuto
res
de diferentes profissões e com a comunidade.
Alguns
coletivos
realizavam o método d
e rodízio de subgrupos de
discentes
para o conhecimento
dos
serviços
e sua dinâmica,
realização das atividades planejadas e
captação de
novas
demandas para subsidiar
outras intervenções. Para cada
trabalho finalizado,
realizavam
-
se
discussões
e
a
elab
oração de
relatórios
entre os integrantes nos encontros rotineiros
, com
posterior devolutiva
ao
MS.
O fluxograma (Figura 2) exemplifica a dinâmica de
funcionamento do projeto e proporciona melhor
compreensão
8
acerca da organização operacional geral das
ações
desenvolvidas pelo PET
-
Saúde
Interprofissionalidade
.
FIGURA
2
ORGANIZAÇÃO OPERACIONAL GERAL DO GRUPO PET
-
SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE
Os relatos mostraram que a
interação entre os três
grupos
tutoriais do PET
-
Saúde
foi um desafio
;
os encontros entre
el
es
eram esporádicos e as relações
se pautava
m
na participação
conjunta
em
algumas açõe
s. No entanto, o
intuito do programa
,
previsto em edital do MS,
era que todos desenvolvessem os
objetivos gerais e os eixos prioritários
de forma conjunta
, a partir
de grupos tutoriais que ensejassem práticas de ensino
-
aprendizagem entre docentes, profissionais da saúde e
estudantes
,
em diferentes frentes de realidades do SUS.
E4. “
N
ós não conseguimos estabelecer u
ma relação de
integração
entre
todos os grupos, ou seja, compartilhar os
objetivos gerais e todos compreenderem
o que é a vigilância em
saúde, o que é a rede
de atenção do SUS
, o que é o controle
social,
o que são as práticas integrativas e complementares em
saúde, o que é promoção em saúde
[…]. […]
porque esses cinco
grupos
diferentes
formam
um PET só,
o PET
-
Saúde
Interprofissionalidade
[...]”.
E2. “
Lidar com um grupo grande é extremamente desafiador,
como promover uma comunicação efetiva entre todos
os
tutoriais? Como
organiza
r cada grupo para que as ações sejam
colaborativas? Como organizar de um jeito sensível para não
formar apenas profissionais, mas seduzir cidadãos a
desenvolverem um mundo que queremos trabalhar e viver?
[…]”.
A influ
ência da imersão grupal, seja pela influência de líderes
notórios, motivação ou processamento cognitivo ligado à
aprendizagem vicariante,
pode
influir n
a edificação de novas
crenças, valores, comportamentos, proporcionando mudança
de
atitudes
nos indivíduos. Para alguns autores,
o sucesso de
integração entre diferentes grupos pode estar atrelado ao perfil
de liderança do coordenador e o modo de conduzir a equipe, ao
alinhamento metodológico de
todos os grupos envolvidos, bem
como à coesão e motivação
. Desse modo, torna
-
se necessário
discutir os arranjos operacionais do programa
para que os
objetivos e açõ
es aventada
s possam ecoar de maneira
significativa
na
u
niversidade
, no
SUS
e na comunidade (29
,
30
).
O desenvolvimento das ações e a dualidade de realidades
As
ações realizadas pelos participantes do PET
-
Saúde
podem
ser classificadas em duas fases: antes da pandemia, em que as
atividades s
e concentravam
de modo presencial nos
equipamentos sociais e havia a interação face à face entre
estudantes, professores, profissionais de saúde e pacientes; e
após o início pandêmico, caracterizando
-
se por interações
remotas, produção de materiais digitais e o desenvolv
imento de
ações à distância.
Os efeitos da pandemia de COVID
-
19
alteraram de forma significativa a dinâmica do projeto
e
as
experiências presenciais no SUS tiveram que ser suspensas,
então
,
as atividades foram sendo planejadas com menor
9
periodicidade, a partir da realidade pandêmica, objetivando
manter o foco central da interprofissionalidade. Os grupos
também passaram a trabalhar em atividades específicas e não
tanto por horas semanais.
E1. “
A questão de n
ão poder mais
estar fisicamente dentro do
serviço é uma lástima
. É uma perda não
poder
viver a rotina
das
unidades
, do território
, não se reunir
mais
pessoalmente
[…]. […]
foi algo que
aconteceu
(a pandemia)
e
a gente não teve muita
governabilidade
”.
Dentre as aç
ões desenvolvidas
anteriormente ao
momento
pandêmico é possível citar
o
acompanhamento da
dinâmica e
rotina de
diferentes
unidade
s
de saúde
e o desenvolvimento de
intervenções presenciais
em questões relacionadas a esses
locais, dentre elas:
interdições
de estabelecimentos comerciais
no âmbito da vigilância
sanitá
ria;
inspeções de infrações
relacionadas à saúde do trabalhador em diversas empresas;
mutirões de vacinação
em diversos locais
e o acompanhamento
de doenças de notificação compulsória
,
no contexto da vigilância
epidemiológica; atividade educativa para trabalhadores da
saúde sobre o modo correto de coleta e encaminhamento de
exames laboratoriais;
criação de jogo de tabuleiro
para ensinar
as Redes de Atenção do SUS, nomeado “InterRaps”;
participaçã
o em Conselhos e Conferências de Saúde e também
outras áreas das políticas públicas
;
auxílio na formação de novos
Conselhos Municipais de Saúde no cen
ário local das
comunidades e
a
organização de
eventos de extensão.
No tocante às ações que passaram a ser executadas após o
incício da pandemia, destaca
-
se o uso de tecnologias de
informação
e comunicação para a realização de atividades
à
distância
,
gerando
impacto dentro e fora dos serviços, tais
como,
o telemonitoramento de casos confirmados e suspeitos de
COVID
-
19 nos serviços do SUS
;
migração do jogo de tabuleiro
físico
“I
nterRaps
”
para o modo
de
jogo virtual
;
depoimentos de
participantes acerca da trajetória do PET
-
Saúde
Interprofissionalidade;
materiais
educativos
di
gitais
, como
e
-
books
,
ví
deos,
lives, podcasts
e postagens
sobre
questões
relacionadas à pandemia de COVID
-
19 e combate à fake news
na saúde
;
p
articipação, apresentação e publicação de trabalhos
científicos em congressos e revistas;
suporte na execução
remota
de
disciplina de pós
-
graduação em políticas públicas;
capacitações remotas
de educadores e conselheiros municipais
de saúde
;
auxílio burocrático para associações de movimentos
sociais
e
arrecadação de alimentos e materiais de
hi
giene para
a população em situação de rua.
Para melhor compreensão, o Quadro 3 demonstra
as ações
realizadas pelos grupos participantes da pesquisa nos dois
momentos sanitários.
Quadro
3
AÇÕES REALIZADAS PELOS GRUPOS PARTICIPANTES DA PESQUISA NO PET
-
SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE
Ações do grupo Vigilância em Saúde
Antes da pandemia
Depois do início da pandemia
-
Atividad
es de rotina
de
Unidade
s
Básicas de Saúde
desenvolvidas por cada profissão
;
-
Ações de Vigilância S
anitária
: inspeções e interdições de
estabelecimentos comerciais
;
-
Ações de Vigilância E
pidemiológica
:
vacinação,
acompanhamento de cobertura vacinal e situação de
doenças de notificação compulsória
;
-
Ações de Saúde do T
rabalhador
: inspeção da situação de
trabalho em diversas empresas
.
-
Telemonitoramento dos casos
suspeitos e confirmados
de
COVID
-
19
nos serviços do SUS
;
-
Elaboração de materiais educativos digitais
relacionados à
pandemia de COVID
-
19;
-
Elaboração de materiais educativos digitais relacionados
ao combate de
fake news
na saúde
.
Ações do grupo Redes de Atenção à Saúde
Antes da pandemia
Depois do início da pandemia
-
Atividades de rotina de Unidades Básicas de Saúde,
Centros de Atenção Psicossocial, Unidades de Pronto
Atendimento e Laboratório Municipal de Saúde,
desenvolvidas por cada profissão;
-
Criação do
Jogo
“
InterRaps
”
de tabuleiro físico
sobre as
Redes de Atenção do SUS
;
-
Atividade educativa sobre coleta, acondicionamento e
encaminhamento de exames laboratoriais.
-
Telemonitoramento de casos suspeitos e confirmados
de
COVID
-
19
dentro da comunidade da UFPR e em alguns
serviços do SUS
;
-
Jogo
“
InterRaps
”
virtual;
-
Depoimentos da trajetória PET
-
Saúde;
-
Elaboração de materiais educativos digitais relacionados à
pandemia de COVID
-
19;
-
Publicação de t
rabalhos científicos e
participação em
congressos.
Ações do grupo Educação Popular, Mobilização e Controle Social na Saúde
Antes da pandemia
Depois do início da pandemia
10
-
Atividades de rotina de Unidades Básicas de Saúde e
Centros de Atenção Psicossocial desenvolvidas por cada
profissão;
-
Participação em Conselhos e Conferências de
Saúde e
outras áreas das
Políticas Públicas;
-
Auxílio para na criação de novos
Conselhos
Municipais de
Saúde no âmbito local da comunidade.
-
Organização de e
ventos de extensão.
-
Elaboração de
materiais educativos digitais relacionados à
pandemia de COVID
-
19 e ao Controle Social na Saúde;
-
Capacitações remotas de educadores e Conselheiros
Municipais de Saúde sobre o Controle Social.
-
Auxílio burocrático para associações
de Movimentos
Sociais
;
-
Auxílio em disciplina
remota
de pós
-
graduação
em Políticas
Públicas;
-
Publicação de trabalhos científicos e participação em
congressos.
-
Distribuição de alimentos
e materiais de higiene para
população em situação de rua
de Curitiba
-
PR
.
É possível perceber que o
programa
,
enquanto
política indutora
de formação para a saúde,
possui potencialidade
para
avanço às
ações específicas
,
pautadas na interprofissionalidade
,
no
trabalho colaborativo e
na
vi
vência
dos espaços do SUS,
para a
formação de profissionais voltados à humanização do cuidado,
integralidade da atenção à saúde e ampliaç
ão da visão
crítica
acerca do
processo saúde
-
doença
de indivíduos e coletividade
(
16,18,28
)
.
Além disso,
o
PET
-
Saúde proporcionou aos
participantes interações
diretas com
comunidade
s
e suas
problemáticas
, possibilitando o
exercício
da aprendizagem e de
trabalho
s
re
flexivos, significativos
e impactantes,
de alguma
forma, no bem
-
estar das
pessoas
e populações
(18,27
).
E17. “
O PET
-
Saúde me proporcionou a
vivência de um mutirão
de vacinação
realizado
em uma instituição social que abriga
va
crianças portadoras de doenças físicas e do intelecto
abandonadas pelos genitores, foi algo muito marcante para mim.
[…]
eu tive a oportunidade de ver um bebê recém
-
nascido sendo
entregue
ao local
,
um serzinho
tão pequeno
, com grandes
dificuldade
s
e já lutando muito (choro)
”.
E18. “
O contato telefônico com os pacientes nesse isolamento
pandêmico foi muito marcante, escutar as suas histórias. Tinham
ligações que em 15 minutos a gente conseguia responder o
questionário de monitoramento da
COVID19, entretanto, outras
duravam mais uma hora porque as pessoas estavam carentes de
interação social, de serem ouvidas, aí a gente acabava sendo um
elo de escuta e conforto também
[...]”.
Os relatos revelam
que o grau de
significação
e importância
das
vivê
ncias
, por parte dos participantes,
possui
forte relação
com os
usuários de saúde e suas demandas
. Talvez a constituição de
atividades que possam transformar e melhorar a vida das
pesso
as seja um fator de motivação para o desenvolvimento das
ações e uma estratégia para o bom andamento do projeto.
CONCLUS
ÃO
O processo saúde
-
doença de indivíduos e coletividade requer
uma abordagem ampla, complexa, interprofissional e
transdisciplinar para a resolução eficaz das problemáticas nessa
área e a elaboração de políticas públicas que sejam intersetoriais
e eficientes.
Torna
-
se paradoxal e extremamente difícil o intento
de transformar práticas e concepções sanitárias sem o
alinhamento com o desenvolvimento de recursos humanos para
esse campo. Nesse sentido, o
Programa de Educação pelo
Trabalho em Saúde (PET
-
Saúde), polí
tica indutora de formação
de profissionais para o Sistema Único de Saúde (SUS), inova
no
processo de ensino
-
aprendizagem
ao aprox
imar as
u
niversidades
da realidade dos serviços do SUS e das necessidades sociais em
saúde, na medida que inicia estudantes ao mundo do labor, em
diferentes cenários de prática do sistema p
úblico
.
Pode
-
se referir que a última ediç
ão do programa, PET
-
Saúde
Interprofissionalidade, conseguiu alcançar seu objetivo central ao
desenvolver nos participantes competências para o
trabalho
colaborativo e interprofissional na saúde, seja pela execução de
ações coletivas pertinentes ao SUS
e à população brasileira, seja
pela configuração
estrutural e operacional
construída no projeto
.
Além disso,
o programa logrou êxito em
promover
maior
integração entre o ensino, serviço de saúde e comunidade, bem
como
a formação de
profissionais
críticos e
conscien
tes da
importância do SUS
,
do cuidado integral, humanizado e da
concepção ampliada
acerca
da sa
úde e
da
doença na sociedade
.
Os
resultados obtidos na pesquisa podem contribuir pelo menos
em duas dimensões práticas/concretas da dinâmica ensino
-
saúde
-
sociedade. A primeira refere
-
se ao contexto do arcabouço
jurídico institucional vigente, no intuito de orientar e nortear
propostas de
legislação específica em espaços políticos e
territoriais de contextos locais, visando a superação não apena
s
do modelo hegemô
nico de saúde, mas a efetiva integração dos
órgãos públicos regionais e municipais de forma ativa na
consolidação da política naci
onal de saúde e seu intuito de
desenvolver recursos humanos com uma visão humanista,
alinhada e coerente com os princípios do SUS. A segunda
dimensão está relacionada com a trajetória educacional dos
indivíduos que participam ou pretendem participar de alg
uma
formação superior em saúde no Brasil, no sentido de oferecer
uma visão integral da necessidade de novos profissionais
comprometidos
não apenas
com
a melhoria na qualidade do
serviço de saúde no país
, mas com uma visão inter e
intradisciplinar da saúde
que permita um diálogo permanente
entre profissões e, consequentemente, uma superação (mesmo
que gradual) da visão tradicional da saúde em direção de uma
verdadeira integração entre práticas e profissões no contexto do
SUS.
A limitação do trabalho reside na seleção da amostra de
entrevistado, visto que apenas
participantes de
três dos cinco
grupos tutoriais de aprendizagem concordaram em participar da
pesquisa.
Sugere
-
se a elaboração de novos estudos que
aprofundem a temática de políticas e programas públicos que
fomentem modos criativos e inovadores de aprender e ensinar na
área da saúde, atrelados com o desenvolvimento de esferas e
temas pertinentes
à
melhoria das realidades sanitárias e à
cobertura universal em saúde. Adema
is, a realização de
pesquisas que mapeiem,
a
longo prazo,
os efeitos do programa
na formação dos profissionais de saúde e na transformação da
qualidade dos serviços prestados no contexto do SUS.
11
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